
Em alguns pés de "mamãozinho" já foram colhidas batatas com 546 kg. Na época de escassez de vegetação para os rebanhos, os agricultores de poucos recursos técnicos e financeiros costumam retirar os xilopódios dessas plantas como uma das poucas alternativas de alimento para fornecer aos animais.
DOMESTICAÇÃO
O nome científico da espécie é Jacaratia corumbensis O. kuntze, um arbusto com altura que varia de 2,5 m a 6 m. Mamãozinho-de-veado é a denominação popular porque seus frutos são muito consumidos por animais silvestres como os tatus, cutias, siriemas, caititus e, em especial, os veados. Suas flores alimentam diversas espécies de borboletas e abelhas.
Há cerca de 14 anos, Nilton de Brito Cavalcante, mestre em Extensão Rural, da Embrapa Semiárido, estuda o comportamento da planta no ambiente natural e realiza testes com o objetivo de fazer uma espécie de domesticação para uso pelos agricultores nos seus sistemas de cultivo. Desde 1997, Nilton pesquisa o mamãozinho e, em 1998, publicou o primeiro trabalho intitulado Produtividade de xilopódios do mamãozinho-de-veado, no XLIX Congresso Nacional de Botânica.
Para ele, o extrativismo do "mamãozinho" nos períodos críticos de seca é um indicador da importância que tem a planta para os pequenos criadores. O corte indiscriminado nessas épocas diminui a população desse vegetal e, ao longo do tempo, pode se tornar uma ameaça concreta de extinção da espécie.
ÁGUA
Na pesquisa, Nilton entrevistou agricultores, fez testes em campo experimental e realizou análises em laboratório da Embrapa Semiárido. Junto ao de Nutrição Animal, fez comprovações da qualidade forrageira dessa planta nativa: na matéria seca, registrou 30% de proteína nas folhas e ramos novos, e 12% no tubérculo. Compõe ainda esta espécie de batata cerca de 78% de água que pode suprir parte das necessidades dos animais no período de seca.
A espécie é uma boa fonte de nutriente e de água para os animais, revela o mestre em Extensão Rural.
Parte da pesquisa foi dedicada à entrevista com agricultores e à medição da população das plantas de "mamãozinho" em comunidades dos municípios de Juazeiro, Curaçá, Uauá e Jaguarari, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Aí ele encontrou densidades que variaram de 7 a 16 pés/ha.
Segundo Nilton, com mão-de-obra da família, muito pouco recurso financeiro e conhecimento, o pequeno criador do semiárido pode fazer essa quantidade crescer para até 7500 plantas/ha, com espaçamento de 1,5 x 1,5 m, em área de caatinga degradada, ou então repovoar a vegetação nativa com 1200 pés/ha.
Como o peso médio da raiz no primeiro ano de cultivo alcança 3,46 kg, nas duas situações, o agricultor vai dispor de um bom volume de reserva forrageira para o seu rebanho, garante.
PLANTIO
Mais do que constatar o potencial forrageiro da espécie, Nilton definiu práticas de manejo que os agricultores podem adotar para cultivar na sua propriedade, do modo que faz com o capim, ou a palma, ou o feijão. Uma delas é que o plantio pode ser feito em qualquer tipo de solo da caatinga desde que não esteja em área sujeita a alagamento.
Para o cultivo, ele orienta a colheita dos frutos do mamãozinho no período da safra (dezembro/março). Após retirar as sementes, põe para secar e depois armazena por 30-60 dias até o momento do plantio.
O agricultor pode fazer o cultivo direto, depositando de 3 a 5 sementes em covas com 3 a 4 cm de profundidade. O ideal, porém, é que o plantio seja feito em canteiros. Posteriormente, são repicadas para sacos com substrato de solo, areia e esterco que, passados 60 dias da germinação, devem ser levadas para o campo. O transplantio deve ocorrer entre os meses de janeiro a abril para um melhor desenvolvimento das mudas.
A melhor data para o plantio das mudas no campo é logo após as primeiras chuvas. Uma planta adulta de "mamãozinho" chega a produzir 680 frutos por safra e cada um deles chega a conter até 14 sementes.
ADAPTAÇÃO
Nilton explica que o plantio do mamãozinho-de-veado pode ser feito também na forma de consórcio com outras culturas, a exemplo do milho, feijão, palma forrageira, áreas de pastagens, ou na própria caatinga. O agricultor só precisa distribuir as covas de forma que a distância entre as plantas seja de 1,50 m. O espaçamento nas entrelinhas, por sua vez, passa a depender da espécie consorciada. O percentual de germinação das sementes chega a até 80%.
O pesquisador recomenda ainda uma capina no final do período das chuvas. Após um ano do plantio, os agricultores já podem fazer a colheita. No entanto, "quanto mais tempo as plantas permanecerem no campo, maior será o desenvolvimento da batata".
Como não é possível barrar de imediato o corte indiscriminado do "mamãozinho", uma providência que os produtores podem adotar para reduzir o impacto do extrativismo na época de seca é a retirada apenas das plantas masculinas. Além de não produzirem frutos apresentam os maiores xilopódios.
Segundo Nilton de Brito, a grande vantagem para os agricultores é que após o plantio não é preciso mais se preocupar com o mamãozinho: a condição de nativa da caatinga garante sua adaptação às adversidades climáticas da região.
PARA SABER MAIS
Nos links abaixo, é possível acessar para leitura ou para cópia digital, de forma gratuita, alguns dos trabalhos publicados sobre o assunto (clique nos títulos para baixar os documentos).
Utilização do Mãozinho-de-veado na alimentação dos animais na seca
Mamãozinho-de-veado (jacaratia corumbensis o. kuntze): Cultivo alternativo para alimentação animal na região semiárida do nordeste
MAIS INFORMAÇÕES
Pesquisador Nilton de Brito Cavalcanti
M.Sc. em Extensão Rural
Embrapa Semiárido
E-mail: nbrito@cpatsa.embrapa.br
FONTE
Embrapa Semiárido
Marcelino Ribeiro - Jornalista
Telefone: (87) 3862-1711
Links referenciados
Mamãozinho-de-veado (jacaratia corumbensis o. kuntze): Cultivo alternativo para alimentação animal na região semiárida do nordestewww.cpatsa.embrapa.br/public_eletronica/
downloads/OPB626.pdf
Utilização do Mãozinho-de-veado na alimentação dos animais na seca
www.cpatsa.embrapa.br:8080/public_eletro
nica/downloads/INT60.pdf
nbrito@cpatsa.embrapa.br
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Embrapa Semiárido
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Marcelino Ribeiro
marcelrn@cpatsa.embrapa.br
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